Horizonte de Esperança: Irmãs Dominicanas e Monsenhor Juvenal Arduini

    No contexto das celebrações do Jubileu dos 800 anos da Ordem dos Pregadores e dos 131 anos das Irmãs Dominicanas em Uberaba (MG), nada mais justo que se faça uma menção e homenagem amiga a este prezado companheiro de todas as horas da família dominicana: Monsenhor Juvenal Arduini. As Irmãs Dominicanas contaram, durante mais de 60 anos, com a sua presença intensa, tanto em suas atividades acadêmicas como nas ações religiosas e pastorais. Juvenal Arduini, sacerdote e intelectual, foi professor, escritor, orador e, principalmente, defensor dos direitos humanos e da justiça social. Era um assíduo leitor da revista francesa “La Vie Intellectuelle”, publicação dos freis dominicanos que, com um pensamento cristão progressista, influenciou os intelectuais católicos das décadas de 1950 e 1960. Irmã Olinda, dominicana e ex-diretora do Hospital e Maternidade São Domingos, relatou que: “Com seu exemplo, Monsenhor convida-nos a segui-lo para participar de sua fé viva, de seu amor, de sua coragem, de sua justiça, de sua esperança, de sua utopia. E demonstra seu compromisso com a vida em plenitude na defesa dos Direitos Humanos em favor do grito surdo dos pobres e do gesto valoroso pela justiça social. Pois a vida só tem sentido igualitário onde todos tiverem os mesmos direitos e os mesmos deveres”. Esses ideais orientaram a vida de Juvenal Arduini. Ele foi professor-fundador da Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino (FISTA), criada pelas Irmãs Dominicanas em 1949. Lecionava Filosofia, Lógica, Cosmologia, Ontologia, Teoria do Conhecimento, Antropologia e Metodologia Científica. Dedicou sua vida à juventude, sendo professor em várias faculdades, dentre as quais a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (UFTM), da qual foi um dos fundadores em 1954. Foi professor universitário até 1985. Ele dizia que sempre lecionou por persistente convite da Direção das Faculdades. Irmã Georgina, dominicana e ex-diretora da FISTA, acerca de Juvenal Arduini, afirmava que “à sua inteligência privilegiada, aliam-se a aplicação tenaz ao estudo, a capacidade de penetrar o Mistério... E realizam a liberdade nobre de transmitir nas homilias, em palestras sábias e mesmo no trato pessoal, seus avanços cada vez mais nítidos, mais perceptíveis, mais límpidos na caminhada para a Verdade plena, para o Amor sem fronteiras”. Em 1950, foi nomeado Assistente Eclesiástico da Juventude Universitária Católica (JUC). Sua atuação com os universitários, com o apoio das irmãs dominicanas, foi marcada pela Missa dos Universitários e pela luta contra o Regime civil-militar de 1964. Ele dizia que: “A repressão militar alastrou o medo no meio estudantil, nas famílias e na sociedade. E provocou nociva paralisia cívico-política. Houve setores que tentaram afastar-me do meio universitário para neutralizar-me. A ação enérgica de Dom Alexandre frustrou essa tentativa. Mas o serviço de Segurança Nacional continuava a vigiar os contactos que eu mantinha com estudantes de Uberaba e de fora. (...) O objetivo do sistema ditatorial era despolitizar os estudantes, e a tese repisada era: ‘estudante é para estudar e não para fazer política’. (...) Desta forma, as novas gerações de jovens universitários foram prejudicadas em sua formação. São vítimas de um sistema antipedagógico que lhes dispersou o potencial de participação histórica”. Uma geração de irmãs dominicanas, religiosos, universitários e leigos em geral, embebedaram-se nos fecundos ensinamentos deste homem simples e excepcional orador. A exemplo de São Domingos de Gusmão, ele era um pregador que denunciava as mazelas do seu tempo e anunciava, no seguimento dos valores do Cristo, a democracia, a justiça e a paz. Entre 1960 e 2012 foi capelão do Hospital e Maternidade São Domingos, fundado pelas Irmãs Dominicanas. Ele dizia que atuar junto aos enfermos era “uma atividade sublime, porque humana e evangélica”. A presença de Monsenhor Juvenal Arduini junto às Irmãs assegurava um amparo espiritual e pastoral eficiente à comunidade Dominicana, ao mesmo tempo em que era fator de garantir a integração das Irmãs com a Igreja Católica. As irmãs dominicanas, no seguimento de Domingos e Anastasie, com o testemunho de vida apostólica de Juvenal Arduini, fortaleceram sua evangelização em Uberaba. No horizonte de esperança, que a missão dominicana, como dizia Monsenhor Juvenal Arduini, continue sendo aquela que prega: “Ser cristão é incluir os irmãos na própria vida, e seguir Jesus. E seguir Jesus é viver e agir como Jesus viveria e agiria, se estivesse no contexto histórico-social em que nos encontramos hoje”. 

    (*) Texto escrito pelo Professor de História e Ensino Religioso no Colégio Nossa Senhora das Dores – Uberaba e publicado no Jornal da Manhã e no Informativo da Fraternidade Leiga Dominicana.
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